sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Desmatamento


Comparação da Mata Altântica original e atual.



Área inclinada descoberta favorecendo escoamento superficial.




Trecho do rio Catolé totalmente desprovido de mata ciliar.





Área desmatada do Rio Catolé (Foto: Antonio Guimaraes)



O desmatamento é um processo que ocorre no mundo todo, resultado do crescimento das atividadess produtivas e econômicas e principalmente pelo aumento da densidade demográfica. Na foto acima observamos a erradicação da mata ciliar provocando o assoreamento do leito do rio, a contaminação do solo e a depreciação da paisagem.

A fragmentação florestal é a substituição de áreas de floresta nativa por outras formas de uso da terra, deixando isoladas suas partes, com conseqüências negativas para o conjunto de seus organismos. A fragmentação reduz a área coberta por florestas, podendo resultar em extinção de algumas espécies (MURCIA, 1995). Dentre os efeitos da fragmentação florestal, estão à alteração do micro clima dentro e ao redor do remanescente e o isolamento das populações vegetais (SAUNDERS et al., 1991; ESSEEN, 1994; CAMARGO & KAPOS, 1995; VIANA & TABANEZ, 1996), contribuindo assim para sua degradação em maior ou menor grau. O levantamento e mapeamento do uso do solo e cobertura vegetal de uma dada região são importantes porque apresentam a distribuição espacial das atividades de exploração e conservação da área. Esta informação associada àquela da capacidade de suporte do terreno serve de base para o planejamento da ocupação antrópica das terras, de forma racional. (NOBRE et al. 1991).

Constatou- se que um terço da área da bacia hidrográfica do rio Catolé é composta por pastagem artificial (34,76%), o que indica um significativo desmatamento da área da bacia, visto que a mesma era coberta por vegetação proveniente da Mata Atlântica. Aproximadamente 27,83 % da área da bacia estão coberta pelas classes mata densa e mata que representam os remanescentes da Mata Atlântica, enquanto que 25,25 % estão coberta por capoeira, que pode ser vegetações provenientes de pastagens sujas, que são áreas originalmente transformadas em pastagens e, posteriormente relegadas ao abandono, podendo ser, “a priori” consideradas áreas em primeiro estágio de sucessão vegetal, dentro do processo natural de regeneração da cobertura original.

A análise de mapas temáticos dos fragmentos florestais mostram que existem poucos fragmentos florestais nativos, mata densa (6,92%), e estes se encontram significativamente dispersos na área da bacia, dificultando as possibilidades de implantação de projetos de união de fragmentos e a formação de corredores ecológicos ou trapolins ecologicos steping stones.Estudos, pesquisas e levantamentos feitos na Mata Atlântica invariavelmente confirmam sua notável riqueza e diversidade de espécies de plantas e animais, já amplamente reconhecidas no meio científico, nacional e internacionalmente .

Infelizmente, essas investigações também revelam uma situação grave, de constantes agressões à Mata Atlântica e destruição dos seus hábitats. Ao longo dos últimos anos, a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) têm utilizado imagens de satélite, tecnologias na área da informação e sensoriamento remoto para preparar o Atlas dos Remanescentes Florestais e Ecossistemas Associados da Mata Atlântica. O primeiro mapeamento da Mata Atlântica, realizado com a participação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), foi concluído em 1990 e permitiu identificar e mapear, na escala de 1:1.000.000, os remanescentes florestais em todo o país. O projeto contribuiu também para a definição dos limites originais da Mata Atlântica (Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1990), indicando que o bioma se estendia por mais de 1.363.000km2, ou aproximadamente 15% do território brasileiro. Hoje essa extensa área abriga uma população de 108 milhões de habitantes, ou mais de 60% da população total do país. De acordo com o Censo Populacional de 2000 (IBGE, 2001), esses habitantes moram em mais de 3.406 municípios, ou 62% dos municípios brasileiros . Dados do IBGE (1997), a descrição dos limites da Mata Atlântica contida no Decreto Federal n° 750/93 e o Mapa da Vegetação do Brasil (IBGE, 1993) indicam que 2.528 desses municípios estão localizados inteiramente dentro do bioma. O projeto de mapeamento atualmente em desenvolvimento foi concebido pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo INPE para identificar os remanes- 60 centes florestais da Mata Atlântica e dos ecossistemas associados, tais como mangues e restingas, e para monitorá-los em intervalos de cinco anos (1985, 1990, 1995 e 2000). O trabalho inicial foi feito na escala de 1:250.000, mas avanços metodológicos e tecnológicos vêm permitindo aperfeiçoar sistematicamente esse levantamento. Por exemplo, na fase mais recente (de 1995 a 2000), a escala foi ampliada para 1:50.000. Desde o início, o projeto conta com a participação efetiva e a contribuição de muitos cientistas, pesquisadores, ambientalistas, órgãos públicos e empresas privadas (Fundação SOS Mata Atlântica/ INPE, 1992-93, 2001; Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1998). Até o momento, o Atlas da Mata Atlântica cobriu dez estados, da Bahia ao Rio Grande do Sul, representando uma área de 1.285.000km2, ou 94% do bioma, e continua a mapear, com precisão cada vez maior, os remanescentes florestais na quase totalidade da região. Quanto ao monitoramento, os resultados revelam a intensa intervenção antrópica e a forte pressão sobre a cobertura vegetal, o processo contínuo de desmatamento descontrolado e de fragmentação da floresta, ao passo que somente uma pequena porção de áreas florestais está em processo de regeneração. Esses resultados confirmam a fragilidade do bioma e a extensão do comprometimento de sua biodiversidade, que continua a ser ameaçada. De acordo com dados reunidos pelo projeto do Atlas e levantamentos realizados em diferentes regiões, a Mata Atlântica perdeu mais de 92% de sua área original. Hoje, restam apenas cerca de 100.000km2 da floresta original, a maioria em fragmentos distribuídos ao longo de toda a sua extensão e em grande parte concentrados nas áreas de relevo acidentado das regiões Sul e Sudeste do país (Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1998; Conservação Internacional do Brasil et al., 1994) .

As causas do desmatamento e os tipos de exploração predatória da Mata Atlântica variam de uma região para outra . Com base no Atlas da Mata Atlântica e em informações de outras fontes, pode-se concluir que os principais problemas existentes no entorno das grandes cidades brasileiras estão relacionados com a ocupação irregular e desordenada da terra para moradia, com a especulação imobiliária e com a extração seletiva de recursos florestais. A especulação imobiliária é também o fator principal de degradação de áreas costeiras, restingas e manguezais. O efeito cumulativo do desmatamento em pequena escala agrava os problemas do bioma como um todo. Outras formas de agressão que afetam direta ou indiretamente os remanescentes da Mata Atlântica são a poluição do ar, da água e do solo, de origem industrial ou agrícola, ou resultantes do derramamento de óleo, da mineração, da construção de novas estradas e rodovias e de projetos energéticos como hidrelétricas e gasodutos. O desmatamento e as agressões à Mata Atlântica comprometem regiões nas quais se localizam centros de endemismo importantes), tais como o estado do Rio de Janeiro, que perdeu 305,79km2 entre 1985 e 1990, 1.403,72km2 entre 1990 e 1995 e 37,73km2 entre 1995 e 2000, totalizando 1.747,24km2 nos últimos 15 anos (Fundação SOS Mata Atlântica/ INPE, 2001).O estado de Santa Catarina, na região Sul do país, perdeu 2.050km2 de remanescentes florestais entre 1985 e 2000. Até agora as maiores taxas de desmatamento ocorreram no estado do Paraná, que nos últimos 15 anos sofreu uma perda total de 2.889,95km2: 1.442,40km2 entre 1985 e 1990, 846,09km2 entre 1990 e 1995 e mais de 601,46km2 entre 1995 e 2000. Além disso, esse estado tem o maior índice de perda de área de floresta contínua. O maior desmatamento verificado na Mata Atlântica, desde de que a Fundação SOS Mata Atlântica e o INPE iniciaram o exercício de monitoramento, atingiu 160,86km2, desapropriados para fins de reforma agrária, entre 1995 e 2000, no município de Rio Bonito do Iguaçu, que também perdeu outros fragmentos de floresta, numtotal de 171,17km2Essa área, localizada às margens do rio Iguaçu, no interior do estado, foi foco de atenção devido aos danos diagnosticados nos primeiros levantamentos realizados para o projeto do Atlas, 62 BRASIL entre 1985 e 1990. A região foi indicada como área potencial para a conservação da biodiversidade por ser insuficientemente conhecida, mas de provável importância biológica. Nos estados da região Sul, as áreas afetadas, e que continuam seriamente ameaçadas, são as de Florestas de Araucária, uma formação de floresta ombrófila mista que já cobriu nessa região uma área equivalente a 164.042,75km2. Especialistas estimam que os remanescentes florestais nesses estados foram reduzidos a apenas 9% desse total, e a maioria das áreas foi bastante modificada. Quase todas as informações correspondentes à fase final (1995-2000) do projeto do Atlas já foram atualizadas. Dados preliminares indicam que a taxa de desmatamento diminuiu ligeiramente, mas ainda assim a situação é muito séria e a pressão antrópica na Mata Atlântica continua intensa. Até o momento, os resultados apontam para uma drástica redução nos remanescentes da Mata Atlântica, de mais de 11.650km2 na área avaliada, apenas nos últimos 15 anos. Tais exemplos, estimativas e breves observações gerais sobre a situação da Mata Atlântica mostram que, apesar da adoção de medidas de proteção, da definição de prioridades e estratégias de conservação e da divulgação da situação, tanto nacional como internacionalmente, uma política global de conservação e ações conservacionistas específicas são ainda necessárias. A designação da Mata Atlântica como Patrimônio Nacional na Constituição Federal, a criação de centenas de unidades de conservação, a indicação de áreas importantes como Patrimônio Mundial pela ONU e o reconhecimento da Mata Atlântica como Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) não foram suficientes para garantir sua proteçãoSomem-se a isso a falta de controle e fiscalização eficiente pelos órgãos públicos e a ausência de resultados positivos e imediatos nas ações das entidades e instituições que atuam na proteção da Mata Atlântica, especialmente as que visam à conscientização da população brasileira sobre a importância e os benefícios diretos e indiretos que esse bioma proporciona, como forma de garantir a qualidade de vida de todos. Além de uma maior participação da sociedade civil, o fim da destruição da Mata Atlântica requer a busca de alternativas sustentáveis para o uso econômico dos recursos florestais e a instituição de incentivos e mecanismos viáveis de estímulo a sua preservação. O projeto do Atlas da Mata Atlântica continuará a monitorar o impacto humano no bioma, a fim de oferecer continuamente informações precisas e atualizadas sobre as alterações na vegetação nativa da área estudada. É importante destacar os esforços da Fundação SOS Mata Atlântica e do INPE no sentido de mapear os remanescentes florestais das áreas anteriormente não avaliadas, tais como as matas secas, especialmente os encraves e as florestas estacionais decíduas e semidecíduas dos estados do Piauí,

Bahia e Minas Gerais; o Parque Nacional da Serra da Bodoquena e outras áreas do Mato Grosso do Sul; e áreas nos extremos oeste e sul do Rio Grande do Sul. Além disso, estão em andamento a identificação e o mapeamento dos estágios intermediário, inicial e médio de regeneração. A análise e o estudo desses resultados irão, sem dúvida,fornecer novos subsídios aos esforços de conservação, visando à proteção desses hábitats. O desafio que resta a todos é reverter, sem demora, o processo de devastação e encontrar formas de acelerar a recuperação de áreas degradadas e expandir a cobertura florestal, contribuindo, assim, definitivamente, para a proteção dos remanescentes florestais e dos ecossistemas associados à Mata Atlântica.

Nenhum comentário: